Sentimentos

5 TEXTOS DE FABRICIO CARPINEJAR SOBRE O AMOR

Você vai se surpreender com as palavras de Fabricio Carpinejar sobre o amor!

1­. AMOR E TORTURA

Há uma diferença na relação entre amar e torturar e muitos se confundem.
Amar é ficar satisfeito com a presença. Torturar é ser insaciável.
Amar é sempre dizer que já tem o suficiente. Torturar é sempre pedir mais e chamar atenção para aquilo que não recebeu.
Amar é conter o ciúme. Torturar é não deixar sair.
Amar é sentir saudade e fazer declarações. Torturar é não mandar notícias.
Amar é assumir a responsabilidade. Torturar é culpar.
Amar é festejar a simplicidade. Torturar é complicar a conversa.
Amar é recordar os momentos felizes. Torturar é lembrar as discussões.
Amar é evidenciar as qualidades de nossa companhia. Torturar é censurar os defeitos.
Amar é acalmar. Torturar é implicar.
Amar é fazer tudo para dar certo, torturar é fazer tudo para dar errado e ainda dizer que avisou do pior.

Quem ama quer ser melhor para o outro. Quem tortura quer ser melhor do que o outro.

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2. ÓBVIO!

Não precisa me conhecer para saber que estou amando.
Não precisa de intimidade para saber que estou amando.
Não precisa de amizade para saber que estou amando.
É apenas me olhar que o porteiro do prédio descobre que estou amando.
É apenas me olhar que o verdureiro descobre que estou amando.
É apenas me olhar que o vendedor de flores descobre que estou amando.
É apenas me olhar que o vizinho descobre que estou amando.
É apenas me olhar que o cobrador descobre que estou amando.
É apenas me olhar que o azulzinho descobre que estou amando.
É apenas me olhar que o balconista descobre que estou amando.
As palavras são dispensáveis.
As perguntas são dispensáveis.
É fácil descobrir quem está amando: ri em vez de cumprimentar, conversa sozinho, ouve música no pensamento, anda distraído, quase voando.
É bobo, a pele brilha, o olhar é céu de brigadeiro.

Quando amamos, não temos segredos, somos transparentes pela primeira vez na vida.
Nossa alma aparece antes do que o corpo.

 

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3. AMAR DEMAIS É APENAS AMOR

Amar demais não é crime. Amar demais não é doença. Amar demais não é pecado.
Amar demais não é um atentado. Amar demais não é desespero. Amar demais não é carência.
Amar demais não é um abuso.
Amar demais não é uma violência. Amar demais não é um desequilíbrio.
Amar demais é amar. É estar amando um pouco mais do que ontem e um pouco mais do que hoje e um pouco mais porque a memória se espalha na imaginação e o desejo não tem cura.
Não existe amor demais, existe amor de menos, existe desamor.
Não existe amor demais, existe amor necessário, amor essencial, amor crescendo.
Não existe amor demais, existe amor e ponto. Amor com sua lógica incoerente, seu pulmão de coração, sua febre ansiosa.
Amar demais é amar sofrendo como todos que amam. É amar inseguro como todos que amam. É amar desconhecendo as fronteiras como todos que caminham com a boca.
Amar não tem régua de abraço, não tem bafômetro de beijo. Não há como dizer que um ama mais do que o outro, ou que um ama pelo outro.
Os amores se misturam quando se ama. Os amores não param de se transferir. Os amores não cessam de recomeçar.
O amor é uma saudade que não se contenta em chegar. É — ao mesmo tempo — o medo de não ser mais ninguém e a alegria de ser tudo.
O amor não é um gesto isolado, impreciso, parado. É um gesto contínuo.
Amor é velocidade. Não conheço jeito de fotografar o amor, e definir: — Este é o seu tamanho!
Amor é desobediência. Não conheço jeito de estancar o amor, e declarar: — Este é o seu limite!
Amar demais é amar correndo com o batimento. É jurar que o mundo vai terminar se o amor terminar. É querer morrer de tanto viver. É nascer brigando e dormir beijando.
É amor, e deu, não inventaram modo mais calmo, versão reduzida, plano controlado.
Amor é uma paz ensandecida, uma guerra calma, uma curiosidade insaciável.
Amar demais não deveria assustar. É como impor cor ao crepúsculo, intimidar a mancha luminosa da lua, censurar um pássaro no alvorecer, trancar o rebanho de estrelas no estábulo de uma nuvem.
Amar demais é querer mais do mesmo amor, é se fartar e sempre faltar, é encontrar procurando, é achar se perdendo, é abençoar amaldiçoando.
Amar demais não tem uma imagem tranquilizadora, um objetivo, uma linha de chegada.
Amar demais não tem controle, pedágio, fiscalização. É realmente assustador. É realmente terrível.
Amar é demonstrar e não se contentar, é repetir e ainda ser inédito, é se arrepender já em pensamento.
Amar é escolher e não se acomodar, é cumprimentar uma vez e jamais se despedir.
Não há amor errado, mas amor aprendendo.
Não há amor demais. É amar como nunca antes. É amar transbordando vento e virando caminho.
Amar demais é amar. Será doação, entrega, não se controla o que foi oferecido, não se cobra de volta.
Se alguém diz que você ama demais, peça uma carta de recomendação.

 

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4.JOGANDO AMARELINHA

Se amor fosse por afinidades, estaríamos resolvidos.
Se amor fosse por semelhanças, estaríamos tranquilos.
Se amor fosse por amizade, estaríamos calmos.
Mas amor não é feito de razão, não é uma decisão, não é uma escolha consciente.
Amor é um tormento, um redemoinho de pássaros, uma inquietação espantosa.
Não há como estabelecer: vou amá-­lo, vou amá-­la, apesar de ser a pessoa ideal para estar conosco.
As pessoas ideais jamais são amadas. Elas são desejadas, mas não amadas. Elas são admiradas, mas não amadas.
Não há como se convencer de que se gosta de alguém, infelizmente, assim seria mais fácil.
Ama ­se quem a gente menos espera, quem mais nos surpreende, quem mais nos irrita, quem mais nos desafia.
O amor é do contra, o amor é oposição, o amor é uma insegurança atenta.
Amor é a primeira vista ou não é amor ­ paga-­se com a vida antecipadamente. Não é parcelado, não é um costume agradável.
O amor não vem com o tempo, fecha o tempo.
Pode se apaixonar, pode ter arrebatamentos, atração, gana de ficar, mas amor mesmo é fulminante desde o início e sempre.
Não é uma negociação, não é uma definição pelo melhor. É uma imposição química, emocional, seja como for.
Amor não é dote, não é indicação de pais e amigos, não é perfil equilibrado. É um erro inspirado.
Aquele que erra ao amar acerta o amor.
Por isso, é tão difícil amar. Por isso, é tão difícil deixar de amar.
Amor não é caminhar na chuva, é ser sorteado pelo relâmpago.
Talvez encontre alguém que adore conversar, adore transar, adore estar junto, mas não significa que amará. Os dias felizes serão agradáveis, os dias tristes serão agradáveis, mas não será suficiente. Faltará aquela intensidade explosiva.
Com o amor, talvez brigue na hora de conversar, na hora de transar, na hora de estar junto, só que se enxergará inteiro como nunca, porque tudo faz sentido na falta de sentido, tudo é o dobro de ardor. Os dias felizes serão os mais felizes, os dias tristes serão os mais tristes. Não terá a mornidão, a neutralidade, o purgatório.
Amor é extremo: céu ou inferno. O jogo da amarelinha é feito de pedras, não de flores.
Amor é contundência implacável, não é adiamento e concordâncias.
Ou você acredita no amor ou confia no amor. São duas posturas distintas.
Quem acredita no amor não ama, tem vontade de amar, faz uma volta ao mundo para se convencer que está amando, é capaz de fingir ou mentir para si que está amando. No fundo, sabe que está sozinho, que vive racionalmente, que tem o domínio da situação, que tem condições de sair da relação a qualquer momento e não sofrerá absolutamente nada. Acreditar no amor é forçar o amor.

Inventar o amor. Forjar o amor.
Já confiar no amor é quando não temos mais controle sobre o próprio sentimento: a mera possibilidade de uma separação é devastação. Confiar no amor é aceitar o amor. Obedecer ao amor. Sofrer com o amor.

Quem acredita no amor vive se explicando. Quem confia não precisa nem de explicação: o amor é uma realidade incontornável.

 

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5. QUANDO O RISO DÓI

Faremos alguém feliz quando descobrirmos que ele pode ser feliz também em nossa ausência.
Quando o amor abdica da aura de condenação.
As ameaças românticas sempre giram na subtração do contentamento com a distância. Se quem amamos não está conosco, será infeliz.
Pois o riso do outro, sem a nossa presença, significaria que ele não nos valoriza, identificado como dispensa, alta traição, insensibilidade diante da dedicada dependência. Sentimos ciúme desproporcional, a ponto da gargalhada sem a nossa autoria doer como uma lágrima.
Não é verdade, o nosso par é capaz de ser bem feliz separado.
Há o desejo perverso de que o outro se dane afastado. Mas é uma ansiedade infantil de possessividade.
Não somos a única fonte de felicidade de uma pessoa. Ela foi feliz antes de nos conhecer e será também depois. Esta noção salva casamentos, elimina restrições e chantagens, acentua o livre-
arbítrio, valoriza a relação.
Não é que ela está comigo porque não consegue ser feliz longe, é que, mesmo podendo ser feliz longe, ainda é mais feliz comigo.
Somos a melhor opção, não a única. Somos a companhia predileta, não a que restou.
O certo é se enxergar o destino de uma alegria, em vez de sua viciada origem.
No momento em que condicionamos o bem­estar, prosperamos o pânico. Funda­se a convivência pelo medo de perder o que se tem, jamais pela confiança de ter sido escolhido e eleito todo dia.
Não podemos sequestrar a felicidade do outro no casamento ou no namoro, como se fosse nossa, como se só dependesse de nossa proximidade, vinculando a alegria ao egoísmo dos laços.
Maturidade é ser indispensável justamente por deixar a porta aberta.

 


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