Reflexão

46 FÁBULAS PEQUENAS com moral e interpretação

Fábulas são histórias curtas protagonizadas por animais e tem como objetivo passar uma lição de moral para o leitor.

São uma forma eficaz de ilustrar e transmitir valores morais. Pode ser difícil explicar ideias abstratas como honestidade, a importância do trabalho em equipe ou generosidade.

Porém, em poucos parágrafos, os autores de fábulas conseguem transmitir sua visão de mundo por meio de uma linguagem clara e objetiva.

Índice

O que são Fábulas?

Você já deve ter lido histórias curtas envolvendo animais e lições de moral. Esses textos são chamados de fábulas, e foram muito usados ao longo de toda a história. Fábula é um gênero textual que relata uma história com o objetivo de ensinar uma conduta moral, ou seja, conduzir o leitor a uma maneira correta de se comportar.

Nela, destaca-se o tipo textual narrativo.

Desse modo, assim como em demais narrativas, fábulas possuem narrador, personagens, tempo e espaço.

Nas fábulas, os personagens são animais com características humanas. Ou seja, comunicam-se, pensam, desejam e agem com determinadas intenções.

Nesse gênero textual, é comum que as qualidades de certos animais sejam usadas para definir o seu comportamento ao longo da história.

A raposa, por exemplo, será sempre esperta e maliciosa.

O leão, sempre faminto e bravo.

A formiga, sempre trabalhadora, e o cordeiro, simples e humilde.

Como é a estrutura de uma fábula e suas Características?

Fábulas são organizadas da seguinte maneira:

Introdução: apresentação dos personagens, do espaço e do tempo.

Desenvolvimento: sequência de ações da história.

Clímax: situação de conflito e tensão na história, que gera suspense quanto ao desfecho.

Desfecho: finalização da narrativa.

Lição de moral: conclusão e interpretação da história, em que se ensina um comportamento correto a ser seguido.

Portanto, fábulas são muito interessantes e divertidas de serem lidas.

Quais são os escritores de fábula mais famosos?

Esopo: Escritor grego considerado o pai do gênero Fábula.

Jean de La Fontaine: Poeta e fabulista francês, foi um dos maiores divulgadores do trabalho de Esopo.

Monteiro Lobato: Famoso escritor brasileiro conhecido por seus trabalhos destinados ao público infantil.

Millôr Fernandes: Escritor, humorista, poeta e jornalista brasileiro.

Fábulas de Esopo

1. O leão e o ratinho

Um leão, cansado de tanto caçar, dormia espichado debaixo da sombra boa de uma árvore.

Vieram uns ratinhos passear em cima dele e ele acordou.

Todos conseguiram fugir, menos um, que o leão prendeu debaixo da pata.

Tanto o ratinho pediu e implorou que o leão desistiu de esmagá-lo e deixou que fosse embora.

Algum tempo depois o leão ficou preso na rede de uns caçadores.

Não conseguindo se soltar, fazia a floresta inteira tremer com seus urros de raiva.

Nisso apareceu o ratinho, e com seus dentes afiados roeu as cordas e soltou o leão.

Moral: Uma boa ação ganha outra.

Interpretação do Refletir

Ao ser generoso e poupar a vida do ratinho, no futuro, o leão teve a sua própria vida salva pelo roedor.

Outra mensagem é que mesmo o leão sendo um animal grande, forte e feroz, ele dependeu da ajuda do pequeno e frágil ratinho. Então, por melhor que você seja, não deve subestimar ninguém.

2. O lobo e a cabra

Um lobo viu uma cabra pastando em cima de um rochedo escarpado e, como não tinha condições de subir até lá, resolveu convencer a cabra a vir mais para baixo.

– Minha senhora, que perigo! – disse ele numa voz amistosa. – Não seja imprudente, desça daí! Aqui embaixo está cheio de comida, uma comida muito mais gostosa.

Mas a cabra conhecia os truques do esperto lobo.

– Para o senhor, tanto faz se a relva que eu como é boa ou ruim! O que o senhor quer é me comer!

Moral: Cuidado quando um inimigo dá um conselho amigo

Interpretação do Refletir

Na fábula acima o lobo fingiu pensar nos interesses da cabra mas, na verdade, o que ele estava pensando mesmo era em comer a pobre cabrinha.

Atenção aos conselhos: uma pessoa pode fingir estar bem intencionada e dar orientações que, no fim das contas, só irão te prejudicar e trazer benefícios apenas para a tal pessoa.

3. O parto da montanha

Há muitos e muitos anos uma montanha começou a fazer um barulhão. As pessoas acharam que era porque ela ia ter um filho. Veio gente de longe e de perto, e se formou uma grande multidão querendo ver o que ia nascer da montanha.

Bobos e sabidos, todos tinham seus palpites. Os dias foram passando, as semanas foram passando e no fim os meses foram passando, e o barulho da montanha aumentava cada vez mais.

Os palpites das pessoas foram ficando cada vez mais malucos. Alguns diziam que o mundo ia acabar.

Um belo dia o barulho ficou fortíssimo, a montanha tremeu toda e depois rachou num rugido de arrepiar os cabelos. As pessoas nem respiravam de medo. De repente, do meio do pó e do barulho, apareceu … um rato.

Moral: Nem sempre as promessas magníficas dão resultados impressionantes.

Interpretação do Refletir

Muito barulho e alarde pode não significar que algo é realmente grandioso.

Na fábula, o barulho da montanha foi aguçando a curiosidade das pessoas. Quanto mais o tempo passava, maior era a expectativa: elas pensaram se tratar de um evento grandioso e criaram mil teorias. Mas no final se descobriu que o barulho era causado apenas por um pequeno ratinho.

4. O lobo e a cegonha

Um lobo devorou sua caça tão depressa, com tanto apetite, que acabou ficando com um osso entalado na garganta.

Cheio de dor, o lobo começou a correr de um lado para outro soltando uivos, e ofereceu uma bela recompensa para quem tirasse o osso de sua garganta. Com pena do lobo e com vontade de ganhar o dinheiro, uma cegonha resolveu enfrentar o perigo.

Depois de tirar o osso, quis saber onde estava a recompensa que o lobo tinha prometido.

– Recompensa? – berrou o lobo. – Mas que cegonha pechinchona! Que recompensa, que nada! Você enfiou a cabeça na minha boca e em vez de arrancar sua cabeça com uma dentada deixei que você a tirasse lá de dentro sem um arranhãozinho. Você não acha que tem muita sorte, seu bicho insolente! Dê o fora e se cuide para nunca mais chegar perto de minhas garras!

Moral: Não espere gratidão ao mostrar caridade para um inimigo.

Interpretação do Refletir

A cegonha decidiu ajudar o lobo desesperado, salvando sua vida. O lobo fez mil promessas, porém, depois de estar fora de perigo ele desdenhou da ajuda da cegonha sem a menor consideração e não cumpriu o que prometeu.

O lobo é um predador, por isso é retratado como inimigo da cegonha.

5. A raposa e o corvo

Um dia um corvo estava pousado no galho de uma árvore com um pedaço de queijo no bico quando passou uma raposa.

Vendo o corvo com o queijo, a raposa logo começou a matutar um jeito de se apoderar do queijo.

Com esta idéia na cabeça, foi para debaixo da árvore, olhou para cima e disse:

-Que pássaro magnífico avisto nessa árvore! Que beleza estonteante! Que cores maravilhosas! Será que ele tem uma voz suave para combinar com tanta beleza! Se tiver, não há dúvida de que deve ser proclamado rei dos pássaros.

Ouvindo aquilo o corvo ficou que era pura vaidade. Para mostrar à raposa que sabia cantar, abriu o bico e soltou um sonoro “Cróóó!” .

O queijo veio abaixo, claro, e a raposa abocanhou ligeiro aquela delícia, dizendo:

-Olhe, meu senhor, estou vendo que voz o senhor tem. O que não tem é inteligência!

Moral: cuidado com quem muito elogia.

Interpretação do Refletir

O corvo perdeu seu queijo porque se deixou levar pela manipulação da esperta raposa. A raposa sabia que, orgulhoso de si mesmo, o corvo esqueceria do queijo e a raposinha teria uma oportunidade de roubar o alimento.

A fábula alerta para ter cuidado com quem muito elogia: As pessoas podem bajular as outras apenas para tirar vantagens. Quem se deixa manipular é vaidoso: por querer acreditar que os elogios são sinceros abre mão de ver a real intenção do bajulador.

6. A menina do leite

A menina não cabia em si de felicidade. Pela primeira vez iria à cidade vender o leite de sua vaquinha. Trajando o seu melhor vestido, ela partiu pela estrada com a lata de leite na cabeça.

Enquanto caminhava, o leite chacoalhava dentro da lata.

E os pensamentos faziam o mesmo dentro da sua cabeça.

“Vou vender o leite e comprar uma dúzia de ovos.”

“Depois, choco os ovos e ganho uma dúzia de pintinhos.”

“Quando os pintinhos crescerem, terei bonitos galos e galinhas.”

“Vendo os galos e crio as frangas, que são ótimas botadeiras de ovos.”

“Choco os ovos e terei mais galos e galinhas.”

“Vendo tudo e compro uma cabrita e algumas porcas.”

“Se cada porca me der três leitõezinhos, vendo dois, fico com um e …”

A menina estava tão distraída que tropeçou numa pedra, perdeu o equilíbrio e levou um tombo.

Lá se foi o leite branquinho pelo chão.

E os ovos, os pintinhos, os galos, as galinhas, os cabritos, as porcas e os leitõezinhos pelos ares.

Moral: Não se deve contar com uma coisa antes de consegui-la.

Interpretação do Refletir

A pequena menina estava tão empolgada com o leite que se distraiu fazendo planos futuros e esqueceu de cuidar do que ela já tinha. No fim, perdeu o leite e todos os futuros ganhos.

Outra lição desta fábula é que não se deve dar como certo uma coisa antes de consegui-la.

7. O gato, o galo e o ratinho

Um ratinho vivia num buraco com sua mãe, depois de sair sozinho pela primeira vez, contou a ela:

– Mãe, você não imagina os bichos estranhos que encontrei!

Um era bonito e delicado, tinha um pêlo muito macio e um rabo elegante, um rabo que se movia formando ondas.

O outro era um monstro horrível! No alto da cabeça e debaixo do queixo ele tinha pedaços de carne crua, que balançavam quando ele andava. De repente os lados do corpo dele se sacudiram e ele deu um grito apavorante. Fiquei com tanto medo que fugi correndo, bem na hora que ia conversar um pouco com o simpático.

– Ah, meu filho! – respondeu a mãe. – Esse seu monstro era uma ave inofensiva; o outro era um gato feroz, que num segundo teria te devorado.

Moral: Jamais confie nas aparências.

Interpretação do Refletir

O ratinho ficou impressionado com a aparência do belo felino e por isso achou que ele seria gente boa. A mãe, muito sábia, alertou o filho que com certeza o felino comeria o ratinho de lanche.

Já a galinha, feiosa aos olhos do ratinho, não faria nenhum mal.

Jamais confie nas aparências: beleza e feiura nada tem a ver com caráter.

8. O leão e o mosquito

Um leão ficou com raiva de um mosquito que não parava de zumbir ao redor de sua cabeça, mas o mosquito não deu a mínima.

-Você está achando que vou ficar com medo de você só porque você pensa que é rei? – disse ele altivo, e em seguida voou para o leão e deu uma picada ardida no seu focinho.

Indignado, o leão deu uma patada no mosquito, mas a única coisa que conseguiu foi arranhar-se com as próprias garras. O mosquito continuou picando o leão, que começou a urrar como um louco.

No fim, exausto, enfurecido e coberto de feridas provocadas por seus próprios dentes e garras, o leão se rendeu. O mosquito foi embora zumbindo para contar a todo mundo que tinha vencido o leão, mas entrou direto numa teia de aranha. Ali o vencedor do rei dos animais encontrou seu triste fim, comido por uma aranha minúscula.

Moral: muitas vezes o menor de nossos inimigos é o mais temível.

Interpretação do Refletir

O leão, um animal enorme, foi vencido por um minúsculo mosquitinho. E o mosquito, cheio de vaidade por vencer o gigante leão, foi vencido pela pequena aranha.

A fábula mostra que tamanho não determina o vencedor: basta um descuido do maior ou uma boa estratégia do menor para os resultados mudarem.

E, às vezes, aquele inimigo que parece o mais insignificante surpreende sendo o mais poderoso.

9. O galo e a raposa

O galo cacarejava em cima de uma árvore. Vendo-o ali, a raposa tratou de bolar uma estratégia para que ele descesse e fosse o prato principal de seu almoço.

-Você já ficou sabendo da grande novidade, galo? – perguntou a raposa.

-Não. Que novidade é essa?

-Acaba de ser assinada uma proclamação de paz entre todos os bichos da terra, da água e do ar. De hoje em diante, ninguém persegue mais ninguém. No reino animal haverá apenas paz, harmonia e amor.

-Isso parece inacreditável! – comentou o galo.

-Vamos, desça da árvore que eu lhe darei mais detalhes sobre o assunto – disse a raposa.

O galo, que de bobo não tinha nada, desconfiou que tudo não passava de um estratagema da raposa. Então, fingiu estar vendo alguém se aproximando.

-Quem vem lá? Quem vem lá? – perguntou a raposa curiosa.

-Uma matilha de cães de caça – respondeu o galo.

-Bem…nesse caso é melhor eu me apressar – desculpou-se a raposa.

-O que é isso, raposa? Você está com medo? Se a tal proclamação está mesmo em vigor, não há nada a temer. Os cães de caça não vão atacá-la como costumava fazer.

-Talvez eles ainda não saibam da proclamação. Adeusinho!

E lá se foi a raposa, com toda a pressa, em busca de uma outra presa para o seu almoço.

Moral: Cuidado com as amizades muito repentinas.

Interpretação do Refletir

A raposa, muito malandra, se fez de amiga do galo para tentar enganar o animal com uma falsa proclamação de amizade entre todos os animais. O que ela queria na verdade era fazer o galo de lanche.

O galo achando estranha essa súbita amizade, desmascara a farsa.

10. O burro que vestiu a pele de um leão

Um burro encontrou uma pele de leão que um caçador tinha deixado largada na floresta.

Na mesma hora o burro vestiu a pele e inventou a brincadeira de se esconder numa moita e pular fora sempre que passasse algum animal. Todos fugiam correndo assim que o burro aparecia.

O burro estava gostando tanto de ver a bicharada fugir dele correndo que começou a se sentir o rei leão em pessoa e não conseguiu segurar um belo zurro de satisfação.

Ouvindo aquilo, uma raposa que ia fugindo com os outros parou, virou-se e se aproximou do burro rindo:

– Se você tivesse ficado quieto, talvez eu também tivesse levado um susto. Mas aquele zurro bobo estragou sua brincadeira!

Moral: Um tolo pode enganar os outros com o traje e a aparência, mas suas palavras logo irão mostrar quem ele é de fato.

Interpretação do Refletir

O burro sapeca estava enganando todos os animais fingindo ser um leão feroz. No meio da empolgação por conseguir manter sua farsa, ele se revelou ao zurrar de alegria. Ele deixou escapar o zurro (barulho que o burro faz) sem querer, a esperta raposa ouviu e descobriu a verdade.

Ninguém consegue enganar todo mundo todo o tempo: mais cedo ou mais tarde o farsante deixa escapar a verdade.

11. A Galinha dos Ovos de Ouro

Um camponês e sua esposa possuíam uma galinha, que punha todo dia um ovo de ouro.

Supondo que devia haver uma grande quantidade de ouro em seu interior, eles a mataram para que pudessem pegar tudo.

Então para surpresa deles viram que a galinha em nada era diferente das outras galinhas.

O casal de tolos, desse modo, desejando ficar ricos de uma só vez, perderam o ganho diário que tinham assegurado.

Moral da história: Quem tudo quer, tudo perde.

Interpretação do Refletir

O casal de camponeses conseguiu uma valiosa galinha que colocava ovos de ouro. Todo dia ela trazia um pouco de riqueza para eles.

Os dois, movidos pela ganância, tomaram a atitude imprudente de matar a galinha pensando em ficar ainda mais ricos. Eles não cogitaram nem por um minuto que poderiam perder o que já tinham.

Ao matar o animal, mataram a oportunidade.

As pessoas perdem o que é garantido por não valorizarem o que já tem, se arriscando em um ganho maior e incerto.

12. O cervo doente

Um Cervo doente e incapaz de andar repousava quieto em um pequeno espaço de pasto fresco, numa discreta clareira no interior de uma densa floresta.

E aqueles que se diziam seus amigos, então vieram em grande número para tomar conhecimento do seu estado de saúde.

Ocorre que cada um deles, cuja presença era justificada pela visita, servia-se à vontade da escassa grama daquele reduzido pasto, que lá estava para seu próprio sustento.

Assim, passado algum tempo, ele viria a sucumbir, mas não da doença que o acometera, e sim por falta de alimento, uma vez que incapaz de caminhar para conseguir alimento em outro lugar, não foi capaz de sobreviver.

Moral da História 1: Más companhias sempre trazem mais infortúnios que alegrias…
Moral da História 2: Muitos amigos aparentes, poucos amigos presentes…

Interpretação do Refletir

Vários animais vieram visitar o pobre cervo doente para prestar, aparentemente, sua solidariedade. Estes animais se diziam amigos do cervo mas na verdade eles pouco se importavam com o bem estar dele.Todos comeram a pouca comida que o bichinho tinha para sobreviver e o deixaram à própria sorte.

Ter muitos amigos não significa que as pessoas realmente se preocupam com você. Às vezes, elas apenas estão ao redor das outras para curtir bons momentos e consumir recursos mas somem na primeira dificuldade. São apenas conhecidos.

A outra moral é que se manter próximo de pessoas de má índole traz grandes prejuízos: elas acabam prejudicando quem está a sua volta com o seu egoísmo.

13. O Asno e a carga de sal

Um asno carregado de sal atravessava um rio. Um passo em falso e ei-lo dentro da água. O sal então derreteu e o asno se levantou mais leve. Ficou todo feliz. Um pouco depois, estando carregado de esponja às margens do mesmo rio, pensou que se caísse de novo ficaria mais leve e caiu de propósito nas águas. O que aconteceu? As esponjas ficaram encharcadas e, impossibilitado de se erguer, o asno morreu afogado.

Moral da História : Algumas pessoas são vítimas de suas próprias artimanhas.

Interpretação do Refletir

O asno aprendeu que ao entrar na água, sua carga ficava mais leve. Mas na verdade isso aconteceu apenas porque o bichinho carregava sal, que dissolve na água. Quando ele tentou fazer o mesmo com esponjas deu tudo errado.

A artimanha do asno deu errado porque ele interpretou mal o que aconteceu e acabou morrendo sem ter ninguém para culpar, a não ser ele mesmo. A água não era a solução para aliviar toda e qualquer carga das suas costas.

Atenção ao criar estratagemas: quem pode se dar mal é você!

14. A Formiga e a Mosca

Entre a Mosca e a Formiga houve grande discussão sobre pontos de honra. Dizia a Mosca:

— Eu sou nobre, vivo livre, ando por onde quero, como refeições saborosas, sento-me à mesa com o Rei e beijo as mais formosas damas. Tu, mal-aventurada, andas sempre a trabalhar.

Respondeu a Formiga:

— Tu és uma doida preguiçosa. Se pousas uma vez em prato de bom manjar, mil vezes comes sujidades e imundícies desprezadas por todos; se te pões no rosto da dama ou à mesa com o Rei, não é por sua vontade, mas porque és enfadonha e importuna.

Moral da história
Com esta Fábula aprendamos o pouco que valem as pessoas ociosas e importunas como moscas, que se gabam difamando pessoas honradas e contam feitos que nunca lhes aconteceram, desprezando os que como a formiga vivem do seu trabalho.

Interpretação do Refletir

Todos sabemos que a mosca é um inseto inconveniente, que desagrada as pessoas.

A mosca da fábula contava vantagem por andar em banquetes e no rosto de pessoas importantes. A formiga explicou que as ações da mosca eram vergonhosas: na verdade, ninguém desejava a presença dela nessas ocasiões.

E mesmo comendo em banquetes vez ou outra, na maior parte do tempo ela se alimenta de porcarias.

15. A Andorinha e as outras Aves

Estavam os homens a semear linho, e, ao vê-los, disse a Andorinha aos outros pássaros:

— Para nosso mal fazem os homens esta seara, que desta semente nascerá linho, e dele farão redes e laços para nos prenderem. Melhor será destruirmos a linhaça e a erva que dali nascer, para estarmos seguras.

As outras Aves riram-se muito deste conselho e não quiseram segui-lo. Vendo isto, a Andorinha fez as pazes com os homens e foi viver em suas casas. Algum tempo depois, os homens fizeram redes e instrumentos de caça, com os quais apanharam e prenderam todas as outras aves, poupando apenas a Andorinha.

Moral da história: A Andorinha representa a pessoa prudente, que fica livre de dificuldades se consegue antecipá-las. Os que querem viver a seu gosto, sem ouvirem conselhos nem preverem o mal que está para vir, são caçados e castigados devido à sua ignorância.

16. O asno e o velho pastor

Enquanto descansava, um velho pastor observava tranquilo seu asno pastando em um campo muito verde. De repente, ouviu ao longe os gritos de uma tropa de soldados inimigos que se aproximavam rapidamente.

– Corra o mais rápido que puder, levando-me na garupa! implorou ao animal. – Senão nós dois seremos capturados.

Então, com calma, o asno falou:

– Por que eu deveria temer o inimigo? Você acha provável que o conquistador coloque em mim outros dois cestos de carga, além dos dois que já carrego?

– Não – respondeu o pastor.

– Então! – retrucou o animal. – Contanto que eu carregue os dois cestos que já possuo, que diferença faz a quem estou servindo?

MORAL: Ao mudar o governante, para o pobre, nada muda além do nome de seu novo senhor.

Interpretação do Refletir

Para o asno não faria a menor diferença quem fosse o seu dono: ele teria que trabalhar do mesmo jeito.

17. O Homem Calvo e a Mosca

Havia um Homem Calvo que estava sentado descansando após o trabalho, num dia quente de verão. Uma Mosca surgiu e se manteve zunindo sobre sua cabeça calva, picando-o de vez em quando.

O Homem espantava o pequeno inimigo com tapas, mas as palmas iam diretas a sua cabeça; e continuamente assim, a Mosca o atormentava sem parar, mas ele, sabiamente refletiu: “Quando eu acertar apenas um tapa, você pagará pelas incomodações antigas e recentes…”.

Moral da história: “Se tomarmos conhecimento de inimigos desprezíveis, só haverá prejuízos”.

Interpretação do Refletir

O homem deixou a mosca atrapalhar sua rotina, ele poderia continuar o trabalho mesmo com a presença dela. No momento em que ele colocou toda a sua atenção no inseto, a mosca se tornou mais importante do que realmente era e o homem não teve nenhuma vantagem com isso.

18. O Morcego, os Pássaros, e as Feras ??

Um grande conflito estava pronto a acontecer entre os Pássaros e as Feras. Quando os dois exércitos se defrontaram, o Morcego hesitou com qual se unir. Os Pássaros que passaram por seu poleiro disseram: “Venha conosco!”; ao que ele disse: “Eu sou uma Fera.”. Mais tarde, algumas Feras que estavam passando por debaixo dele observaram e disseram: “Venha conosco!”; mas ele replicou: “Eu sou um Pássaro!”. Afortunadamente, a paz foi feita à última hora e nenhuma batalha aconteceu. Assim o Morcego veio até os Pássaros e desejou se unir nas festividades, mas todos se voltaram contra ele, expulsando-o. Ele foi então para as Feras, mas logo bateu em retirada ou então elas o teriam rasgado em pedaços.

– “Ah…” disse o Morcego, “… eu vejo agora…”

Moral da história: “Quem não é nem uma coisa, nem outra, não têm amigos”.

Interpretação do Refletir

Na hora do aperto o morcego não quis tomar partido de nenhum dos lados, nem dos pássaros nem das feras.

Depois de tudo resolvido ele queria participar das festas mas daí ninguém mais o queria por perto.

O morcego aprendeu que quem se recusa a fazer parte de um grupo, também será rejeitado por esse mesmo grupo.

19. O Rei dos Macacos e dois Homens

Dois companheiros que caminhavam juntos pela floresta, acabaram por se perder. Depois de andarem muito, chegaram à terra dos Macacos. Foram logo levados ao rei, que, mal os viu, lhes perguntou:

— Na vossa terra e nessas que atravessastes, o que se diz de mim e do meu Reino? Respondeu um dos homens:

— Dizem que sois um grande Rei de gente sábia e culta. O outro, que gostava de dizer a verdade, respondeu:

— Toda a vossa gente são macacos irracionais, logo o rei também é um macaco.

Ouvindo isto, o Rei ordenou que matassem este, e que ao primeiro oferecessem presentes e o tratassem muito bem.

Moral da história: Verifica-se nesta Fábula que a verdade causa ódio e o elogio ganha amigos. Com um Rei ignorante não há sábios nem virtuosos, apenas aduladores. Os bons são rebaixados e obedecem aos maus.

? Interpretação do Refletir

O rei macaco perguntou aos visitantes o que diziam dele fora de seu reino. O primeiro homem mentiu, disse exatamente o que o rei queria ouvir e foi poupado.

O segundo homem era honesto e falou uma verdade que o rei não gostou, foi sacrificado.

Na realidade para o rei pouco importava a verdade, ele só queria ouvir o que o fizesse feliz. Muitas pessoas são assim: elas preferem se cercar de bajuladores e mentiras do que conviver com honestos e verdadeiros.

20. O Cavalo, o Caçador e o Veado

Havia surgido uma séria rixa entre o Cavalo e o Veado, assim o Cavalo foi até ao Caçador pedir sua ajuda para vencê-lo. O Caçador concordou, mas disse:

“Se você desejar derrotar o Veado, deve me permitir colocar este pedaço de ferro entre tuas mandíbulas, de forma que eu possa te guiar com estas rédeas e me permita colocar esta sela em tuas costas de modo que eu possa me manter firme em ti, para seguirmos depois o nosso inimigo”.

O Cavalo aceitou as condições e o Caçador logo pôs a sela e o bridou. Então, com a ajuda do Caçador o Cavalo logo venceu o Veado, dizendo ao Caçador:

“Agora, desça e remova essas coisas de minha boca e das costas”.

“Não tão rápido amigo,” disse o Caçador. “Eu o tenho sob comando agora, debaixo de minhas esporas e prefiro mantê-lo assim no momento”.

Moral da história: “Se permitires aos homens o uso para seu próprio propósito, eles os usarão para os deles”.

Interpretação do Refletir

Para conseguir vencer o veado, o cavalo permitiu ao homem o subjugar e dominar. O problema é que, depois de terem vencido o inimigo em comum, o homem não permitiu mais o cavalo de ser livre.

A fábula explica que quando abrimos concessões para ter uma vitória hoje, amanhã podemos ter um problema ainda maior.

21. A cabra e o burro

Alguém alimentava uma cabra e um burro. A cabra, com inveja do burro, porque ele era muito bem-alimentado, disse-lhe que ele diminuísse o ritmo de trabalho de ora moer, ora carregar fardos e o aconselhou a simular que estava sentindo mal e cair em um buraco para descansar.

O burro confiou na cabra, caiu e começou a debater-se.

O dono chamou o médico e pediu-lhe que socorresse o animal. Ele lhe disse que fizesse uma infusão com o pulmão de uma cabra e assim o burro ficaria bom. E, tendo sacrificado a cabra, salvaram o burro.

Moral: Assim, quem arquiteta maldades contra outros, torna-se autor de seus próprios males.

Interpretação do Refletir

A cabrinha, movida por inveja, quis prejudicar o burro e dá a ele um conselho mal intencionado.

O que a cabra não imaginava é que, no final, ela acabaria se prejudicando por causa da sua própria maldade.

A fábula diz que quem deseja prejudicar os outros, acaba prejudicando a si mesmo.

22. A cigarra e a formiga

Estava a cigarra, saltitante, a cantarolar pelos campos, quando encontrou uma formiga que passava carregando um imenso grão de trigo.

– “Deixe essa trabalheira de lado” – disse a cigarra – “e venha aproveitar este dia ensolarado de verão”.

– “Não posso. Preciso juntar provimentos para o inverno” – disse a formiga, – “e recomendo que você faça o mesmo”.

-“Eu, me preocupar com o inverno?” – perguntou a cigarra. “Temos comida de sobra por enquanto”.

Mas a formiga não se deixou levar pela conversa da cigarra e continuou o seu trabalho.

Quando o inverno chegou, a cigarra não tinha o que comer, enquanto as formigas contavam com o suprimento de alimentos que haviam guardado.

Morrendo de fome, a cigarra teve de bater à porta do formigueiro, onde foi acolhida pelas formigas, e assim aprendeu sua lição.

Moral da história: É necessário preparar-se para os dias de necessidade.​

Interpretação do Refletir

Enquanto o clima estava quente e o inverno distante, a cigarra não se preocupava com o frio. Para ela pensar nisso era bobagem, queria apenas aproveitar o gostoso calor.

Já a precavida formiga sabia que precisava se preparar para o frio antes dele chegar, depois seria tarde demais.

Quando o inverno chegou a cigarra não havia se planejado e ficou em perigo. Teve que pedir ajuda para as formigas responsáveis.

A fábula mostra que quando tudo anda bem, muitos esquecem de se preparar para as crises. Quando elas chegam, só os que se prepararam ficam tranquilos.

23. O PASTOR E OS LOBOS

Um jovem pastor, cansado de cuidar o dia todo do seu rebanho, teve uma ideia: enganar os habitantes de sua aldeia para poder se divertir. Certo dia, após levar seus numerosos carneiros rumo à montanha, lá do alto, começou a berrar:

– Socorro! Socorro! Os lobos estão nos atacando!

Preocupados com o pastor e os pobres carneiros, os moradores da aldeia correram para o topo da montanha para conseguir agarrar os esfomeados lobos antes que eles atacassem. Chegando lá, encontraram os carneiros descansando e o pastor morrendo de rir.

– Que mentira! Que brincadeira mais sem graça! – disseram magoados.

Essa cena se repetiu muitas e muitas vezes.

Eis que num belo entardecer os lobos realmente apareceram! Então, em alto e bom som, o jovem pastor deu seu grito de horror:

– Socorro! Socorro! Os lobos estão nos atacando!

Porém, desta vez ninguém acreditou. Nenhuma pessoa sequer atendeu ao seu chamado, pois todos estavam cansados de ser enganados. Assim, os lobos atacaram o rebanho inteiro. E o pastor, triste e sozinho na montanha, concluiu:

– De nada adianta mentir, pois quando falamos a verdade ninguém acredita.

Interpretação do Refletir

O jovem pastor se divertiu a valer ao enganar o pessoal da aldeia gritando que os lobos estavam o atacando. O problema é que, quando de fato os lobos realmente vieram, ele gritou por socorro mas ninguém veio ajudar: todos achavam se tratar de mais uma mentira.

A fábula simboliza a perda de confiança: se alguém sempre mente, perde a moral com as pessoas. Quando o mentiroso fala a verdade, sua palavra não vale mais nada.

24. O Leão Apaixonado

Certa vez um leão pediu a filha de um camponês em casamento. O pai, desgostoso por não poder dizer não, já que dele tinha muito medo, viu também no momento, um bom modo de livrar-se de vez por toda do problema.

Ele disse que concordaria em tê-lo como genro, mas com uma condição; Este deveria deixar-lhe arrancar suas unhas e dentes, pois sua filha tinha muito medo dessas coisas.

Contente da vida o leão concordou. Feito isso, ele volta a fazer seu pedido, mas o camponês, que já não mais o temia, pegou um cajado e expulsou-o de sua casa, o que o fez com que o leão voltasse para a floresta.

Moral da História: Todos os problemas, quando examinados de perto, acabam por revelar sua solução.

Interpretação do Refletir

O camponês ficou apavorado em ter um leão casado com a sua filha mas ele tinha muito medo de dizer não ao rei da floresta.

Usando a astúcia o homem achou uma solução: primeiro convenceu o leão de se desarmar para só depois negar a proposta. Sem garras e dentes o animal já não era perigoso e ninguém precisaria temer sua raiva.

A história mostra que para todo o problema há uma solução, só precisamos pensar por um ângulo diferente.

Fábulas de autores Diversos

25. Das falsas posições

Com a pele do leão vestiu-se o burro um dia.
Porém no seu encalço, a cada instante e hora,
“Olha o burro! Fiau! Fiau!” gritava a bicharada…
Tinha o parvo esquecido as orelhas de fora!

Mário Quintana

Interpretação do Refletir

O burrinho tentou se disfarçar de leão, mas a sua “burrice” o fez esquecer suas orelhas de fora.

Ou seja: ninguém consegue esconder o que é de verdade.

26. Por que os camelos são assim

Uma mãe e um bebê, camelos, estavam por ali, à toa, quando de repente o bebê camelo perguntou:

– Mãe, mãe, posso te perguntar umas coisas?

– Claro! O que está incomodando o meu filhote?

– Por que os camelos têm corcovas?

– Bem, meu filhinho, nós somos animais do deserto, precisamos das corcovas para reservar água e por isso mesmo somos conhecidos por sobreviver sem água.

– Certo, e por que nossas pernas são longas e nossas patas arredondadas?

– Filho, certamente elas são assim para permitir caminhar no deserto. Sabe, com essas pernas eu posso me movimentar melhor pelo deserto melhor do que qualquer um! Disse a mãe, toda orgulhosa.

– Certo! Então, por que nossos cílios são tão longos? De vez em quando eles atrapalham minha visão.

– Meu filho! Esses cílios longos e grossos são como uma capa protetora para os olhos. Eles ajudam na proteção dos seus olhos quando atingidos pela areia e pelo vento do deserto! -respondeu a mãe com orgulho nos olhos..

– Tá. Então a corcova é para armazenar água enquanto cruzamos o deserto, as pernas para caminhar através do deserto e os cílios são para proteger meus olhos do deserto . Então o que é que estamos fazendo aqui no Zoológico???

Moral da história: “Habilidade, conhecimento, capacidade e experiências, só são úteis se você estiver no lugar certo!”

Autor Desconhecido

Interpretação do Refletir

A mãe camelo, respondendo as perguntas do bebê camelo, contou como eles estavam bem equipados: tinham água estocada em suas corcovas, pernas para caminhar no deserto e cílios para proteger os olhos.

O pequeno camelo então quis saber de que serve todas essas habilidades para se locomover no deserto se eles moram no zoológico, bem longe das areias escaldantes.

Ter habilidades que não são usadas, como as dos camelôs em cativeiro, não faz a mínima diferença.

27. A SERPENTE E O PIRILAMPO

Certa vez uma serpente começou a perseguir um pirilampo. Cheio de medo, o pirilampo fugia rapidamente, mas a serpente continuava atrás dele sem desistir. E isto durou até que no terceiro dia de perseguição o pirilampo, já sem forças, resolveu parar e perguntou à serpente:

— Posso fazer três perguntas?

— Não costumo abrir esse precedente, mas já que te vou devorar, pode perguntar…

— Pertenço à tua cadeia alimentar ?

— Não.

— Te fiz algum mal?

— Não.

— Então porque quer acabar comigo?

— Porque não suport

Moral da história: Não procure um sentido lógico na inveja.o ver você brilhar…

Interpretação do Refletir

A serpente estava decidida a comer o pobre pirilampo. O pirilampo, confuso, perguntou porque ela queria comê-lo se ele não fazia parte da cadeia alimentar dela nem havia feito qualquer mal.

Ela respondeu que não aguentava ver o brilho do inseto: ver tanta luz no outro a irritava.

Quem sente inveja e quer prejudicar alguém, faz isso movido pelo seu próprio sentimento de inferioridade. Nada tem a ver com as ações da pessoa ou qualquer outra razão racional.

28. Incerto

Um cachorro, que carregava na boca um pedaço de carne que acabara de conseguir, ao cruzar uma ponte sobre um riacho de águas límpidas, de repente, vê sua imagem refletida na água.

Diante disso, ele logo imagina que se trata de outro cachorro, com um pedaço de carne maior que o seu.

Ele não pensa duas vezes, e depois de deixar cair no riacho o pedaço que carregava à boca, ferozmente se atira sobre o animal refletido na água. Seu objetivo é simples, tomar do outro, aquela porção de carne que julga ter o dobro do tamanho da sua.

Agindo assim, ele acaba perdendo a ambos. Aquele que tentou pegar na água, já que se tratava apenas de um simples reflexo, e o seu próprio, uma vez que ao largá-lo nas águas, a correnteza acaba por levar para longe, muito além do seu alcance.

Moral da História 1:

É um tolo e duas vezes imprudente aquele que desiste do certo pelo incerto…

Moral da História 2:

Mais vale uma migalha no prato que um prato cheio no mato…

Autor Desconhecido

Interpretação do Refletir

O cachorrinho estava feliz com o seu pedaço de carne. De repente, ao olhar para o riacho, ele viu seu próprio reflexo na água.

O cão pensou se tratar de outro cachorro e passou a cobiçar o pedaço de carne do outro, que parecia maior que o seu.

Ao tentar tirar o pedaço de carne do outro cachorro, em busca de uma ilusão, ele perdeu o pedaço que tinha de fato.

Seria melhor ele aproveitar o que tinha antes de se arriscar em conseguir o que nem existia.

29. O papagaio e a borboleta

Um papagaio, pipa de papel,
Subindo até as nuvens percebeu
No vale, lá embaixo,
Uma borboletinha; e gritou-lhe então:
-Mal posso te enxergar daqui, creias ou não!
Eu acho que tu me invejas voar tão alto assim!
– Invejo-te, eu? Eu não!
E tu não tens razão
De te vangloriares: voas alto sim,
Mas voas preso a um fio, e a vida assim
Está distante da felicidade.
Já quanto a mim
É bem verdade
Que eu voo baixo: mas voo em liberdade:
Esvoaço e adejo
Onde eu desejo!
Nem como tu, tal qual um bobalhão,
Me gabo sem razão!

krilov, Fábulas russas, tradução Tatiane Belinky, Melhoramentos

Interpretação do Refletir

A pipa estava se sentindo superior a borboletinha por voar mais alto.

A borboleta então mostrou à pipa que, mesmo voando mais baixo que ela, a borboleta era livre enquanto a pipa era prisioneira.

Nem sempre quem vai mais longe na vida é mais feliz: às vezes a pessoa precisa pagar com a própria liberdade para “subir” mais alto.

c) Fábulas de Jean de La Fontaine

30. A Tartaruga e os Patos

Era uma vez uma Tartaruga que queria conhecer o mundo. Confiou este seu desejo a dois Patos que viviam perto dela, numa lagoa.

Um belo dia, a lagoa secou e os Patos prepararam-se para partir. Antes, porém, foram despedir-se da sua amiga e fizeram-lhe um convite:

– Se quiseres, podes vir conhecer o mundo connosco. Cada um de nós segura a ponta de um ramo e tu agarras-te bem a ele com a boca. Assim, ficarás em segurança e poderás ver, lá do alto, cidades e reinos maravilhosos.

A Tartaruga nem pensou duas vezes: aceitou o convite e, nesse mesmo dia, partiram todos à aventura. Sobrevoaram aldeias, cidades e reinos de encantar. Quando passavam por cima de um campo, os camponeses admiraram-se com o que viram e gritaram:

– Vejam! Vejam! Uma Tartaruga a voar!

– Como sou extraordinária! – gritou a Tartaruga cheia de orgulho.

Porém, assim abriu a boca, largou o ramo e estatelou-se no chão.

Moral da história: Aceita o triunfo com modéstia.

Interpretação do Refletir

Ao ter seu sonho realizado pelos patos a tartaruguinha ficou tão envaidecida com a reação dos camponeses que largou o ramo que a mantinha em segurança: ela esqueceu que só conseguiu chegar aos céus por causa da ajuda dos patos.

A mensagem é para não se deslumbrar com os sucessos: este pode ser um erro fatal.

31. A RAPOSA E AS UVAS

A raposa vinha pela estrada quando viu uma parreira carregada de suculentas uvas vermelhas.

“Essas uvas já estão no papo”, pensou.

Doce ilusão. A raposa tentou de tudo, mas os cachos estavam tão altos que não conseguiu apanhar um bago que fosse.

Matreira, ela comentou para quem quisesse ouvir:

— Reparando bem, essas uvas estão muito verdes. Raposas não comem uvas verdes, pois dão dor de barriga.

E foi embora.

Quando já tinha percorrido algumas léguas, um vento forte começou a soprar. Então a raposa voltou depressinha e pôs-se a farejar o chão em busca de bagos de uva.

Moral da história: Quem desdenha quer comprar.

Interpretação do Refletir

A raposa não conseguia comer as uvas, então, passou a desdenhar das frutas. Era mais fácil dizer que o alimento não era bom o bastante para ela do que admitir que não teve capacidade de pegá-lo

Mas, assim que o vento forte chegou, a verdade ficou clara: a raposa voltou correndo para o chão na esperança de pegar as uvas. Ela ainda queria as frutas e na primeira oportunidade de obtê-las, voltou correndo.

Assim são as pessoas: elas tendem a depreciar o que não podem ter.

32. O leão e Outros Animais

Uma ovelha, uma cabra e uma novilha
Trataram com um leão
Fazer igual partilha
Da caça que apanhassem no sertão.

Um veado caiu
No laço que lhe armou a cabra esperta.
Mandou ela chamar os associados;
Veio o leão, rugiu,

Fez do preso animal quatro bocados,
E disse: — A conta é certa;
Pertence-me o primeiro,
Por me chamar leão;
O segundo quinhão,
Por ser forte; o terceiro
Também, por valente.
E se alguém tocar no quarto,
Dá-me um banquete mais farto…
Prova-me as garras e o dente!

Moral: O trabalho é sempre do mais fraco e o proveito do mais poderoso.

Interpretação do Refletir

A ovelha, cabra e a novilha tentaram fazer um acordo com o leão de dividir as caças que os quatro apanhassem. Porém, quando a cabra conseguiu pegar a primeira caça e chamou seus associados, o leão tomou para si toda a carne.

Ele fez isso por ser o animal mais forte e nenhum dos outros bichos teriam como se defender caso o leão os atacasse.

A fábula ilustra as negociações entre pessoas: o mais poderoso sempre vai dar um jeito de usar sua força para tirar proveito dos outros.

33. A Raposa e o Corvo

Mestre Corvo, numa árvore poisado,
No bico segurava um belo queijo.
Mestra raposa, atraída pelo cheiro,
Assim lhe diz em tom entusiasmado:

— Olá! Bom dia tenha o Senhor Corvo,
Tão lindo é: uma beleza alada!
Fora de brincadeiras, se o seu canto
Tiver das suas penas o encanto
É de certeza o Rei da Bicharada!

Ouvindo tais palavras, que feliz
O Corvo fica; e a voz quer mostrar:
Abre o bico e lá vai o queijo pelo ar!

A Raposa o agarra e diz: — Senhor,
Aprenda que o vaidoso se rebaixa
Face a quem o resolve bajular.
Esta lição vale um queijo, não acha?

O Corvo, envergonhado, vendo o queijo fugir,
Jurou, tarde de mais, noutra igual não cair.

Interpretação do Refletir

O corvo perdeu seu queijo porque se deixou levar pela manipulação da esperta raposa. A raposa sabia que, orgulhoso de si mesmo, o corvo esqueceria do queijo e a raposinha teria uma oportunidade de roubar o alimento.

A fábula alerta para ter cuidado com quem muito elogia: As pessoas podem bajular as outras apenas para tirar vantagens. Quem se deixa manipular é vaidoso: por querer acreditar que os elogios são sinceros abre mão de ver a real intenção do bajulador.

Fábulas de Monteiro Lobato

34. A Corrida de Sapinhos

Era uma vez uma corrida de sapinhos.
Eles tinham que subir uma grande ladeira e, do lado havia uma grande multidão, muita gente que vibrava com eles.

Começou a competição.
A multidão dizia:
– Não vão conseguir! Não vão conseguir!

Os sapinhos iam desistindo um a um, menos um deles que continuava subindo. E a multidão a aclamar:
– Não vão conseguir! Não vão conseguir!

E os sapinhos iam desistindo, menos um, que subia tranquilo, sem esforço.
No final da competição, todos os sapinhos desistiram, menos aquele.

Todos queriam saber o que aconteceu, e quando foram perguntar ao sapinho como ele conseguiu chegar até o fim, descobriram que ele era SURDO!

Moral da História: Quando queremos fazer alguma coisa que precise de coragem não devemos escutar as pessoas que falam que você não vai conseguir. Seja surdo aos apelos negativos.

Interpretação do Refletir

O sapinho que ganhou a corrida era surdo, ou seja, ele não podia ouvir todas as coisas negativas ditas pelos outros sapinhos.

A vitória do sapo vencedor foi sem esforço, ou seja, foi fácil. Demonstra que qualquer um deles poderia ter vencido.

Então, os sapos perdedores se deram mal na competição por deixarem as palavras negativas afetarem os seus ânimos.

A mensagem é: cuidado ao ouvir opiniões alheias, as pessoas não tem como saber do que você é capaz. Os limites que elas enxergam em você dizem mais sobre elas mesmas do que sobre você.

35. FÁBULA: O PERU MEDROSO

Gordo o peru e Lindo o galo, costumavam empoleirar-se na mesma árvore. Certo dia a raposa os avistou e veio vindo contente, a lamber os beiços com quem diz: “Temos petisco hoje!”.

Ao avistá-la o peru leva um susto tão grande que por um triz não cai da árvore. Já o galo o que fez foi rir, e como sabia que subir na árvore a raposa não sabia, fechou os olhos e adormeceu.

O peru, coitado, medroso como era, tremia como vara verde e não tirava os olhos do amigo.

– O galo não apanho, mas este peru cai-me logo no papo…- falou consigo mesmo a raposa.

E começou a fazer caretas medonhas, a dar pinotes, a roncar e trincar os dentes, dando a impressão duma raposa louca. Pobre peru! Cada vez mais apavorado, não perdia de vista um só daqueles movimentos. Por fim tonteou, caiu do galho e veio ter aos dentes da raposa faminta.

– Estúpido animal! – exclamou o galo acordando. Morreu por excesso de cautelas. Tanta atenção prestou aos atos da raposa, que lá se foi…

Moral: A prudência manda não atentar demais aos perigos.

Interpretação do Refletir

Gordo, o peru medroso, estava com muito medo da raposa. Para se manter seguro ele não tirava os olhos da ameaça. A raposa rapidamente percebeu o pânico do peru e usou isso contra ele: o deixou tão apavorado que o bichinho, nervoso, caiu direto no perigo.

A fábula ensina que atenção demais ao perigo também é perigosa: gera medo e, o medo, desestabiliza.

O galo é a imagem da pessoa prudente: ele tinha noção do risco e o evitava (descer do galho) mas continuou serenamente pois ali ele estava seguro e não tinha motivos para prestar a atenção no predador que não sabia escalar a árvore.

36 O CAVALO E O BURRO

Cavalo e burro seguiam juntos para a cidade. O cavalo, contente da vida, folgando com a carga de quatro arrobas, e o burro – coitado! gemendo sob o peso de oito. Em certo ponto, o burro parou e disse:

– Não posso mais! Esta carga excede às minhas forças e o remédio é repartirmos o peso irmanamente, seis arrobas para cada um.

O cavalo deu um pinote e relinchou uma gargalhada.

– Ingênuo! Quer então que eu arque com seis arrobas quando posso bem continuar com as quatro? Tenho cara de tolo?

O burro gemeu:

– Egoísta! Lembre-se que se eu morrer você terá que seguir com a carga das quatro arrobas mais a minha.

O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso. Logo adiante, porém, o burro tropica, vem ao chão e rebenta.

Chegam os tropeiros, maldizem da sorte e sem demora arrumam as oito arrobas do burro sobre as quatro do cavalo egoísta. E como o cavalo refuga, dão-lhe de chicote em cima, sem dó nem piedade.

– Bem feito! – exclamou um papagaio. Quem o mandou ser mais burro que o pobre burro e não compreender que o verdadeiro motivo era aliviá-lo da carga em excesso? Tome! Gema dobrado agora…”

Interpretação do Refletir

O cavalo se recusa a ajudar o burrinho que estava carregando mais peso que ele. Preferiu ficar folgado e isso causou a morte do burro. No fim da história o cavalo teve que carregar toda a carga sozinho.

A história ilustra o trabalho em equipe: em um time não existe o trabalho desse ou daquele. Quando as coisas vão mal, todos se prejudicam.

37. O pastor e o leão

Um pastorzinho, notando certa manhã a falta de várias ovelhas, enfureceu-se, tomou da espingarda e saiu para a floresta.

– Raios me partam se eu não trouxer, vivo ou morto, o miserável ladrão das minhas ovelhas! Hei de campear dia e noite, hei de encontrá-lo, hei de arrancar-lhe o fígado…

E assim, furioso, a resmungar as maiores pragas, consumiu longas horas em inúteis investigações.

Cansado já, lembrou-se de pedir socorro aos céus.

– Valei-me, Santo Antônio! Prometo-vos vinte reses se me fizerdes dar de cara com o infame salteador.

Por estranha coincidência, assim que o pastorzinho disse aquilo apareceu diante dele um enorme leão, de dentes arreganhados.

O pastorzinho tremeu dos pés à cabeça; a espingarda caiu-lhe das mãos; e tudo quanto pôde fazer foi invocar de novo o santo.

– Valei-me, Santo Antônio! Prometi vinte reses se me fizésseis aparecer o ladrão; prometo agora o rebanho inteiro para que o façais desaparecer.

Moral da história: No momento do perigo é que se conhecem os heróis.

Interpretação do Refletir

O pastorzinho tomado de raiva contrariou a sabedoria popular que manda ter “cuidado com o que você deseja” e pediu aos céus para encontrar quem havia roubado suas ovelhas. O gatuno se revelou um leão feroz.

Inicialmente o menino, que estava cheio de coragem, se acovardou em frente a fera.

A história ilustra as pessoas que se vangloriam de serem muito ferozes apenas quando não estão de frente com o perigo.

38. A coruja e a águia

Coruja e águia, depois de muita briga, resolveram fazer as pazes.

– Basta de guerra – disse a coruja. – O mundo é tão grande, e tolice maior que o mundo é andarmos a comer os filhotes uma da outra.

– Perfeitamente – respondeu a águia. – Também eu não quero outra coisa.

– Nessa caso combinemos isto: de agora em diante não comerás nunca os meus filhotes.

– Muito bem. Mas como posso distinguir os teus filhotes?

– Coisa fácil. Sempre que encontrares uns borrachos lindos, bem feitinhos de corpo, alegres, cheios de uma graça especial que não existe em filhote de nenhuma outra ave, já sabes, são os meus.

– Está feito! – concluiu a águia.

Dias depois, andando à caça, a águia encontrou um ninho com três monstrengos dentro, que piavam de bico muito aberto.

– Horríveis bichos! – disse ela. – Vê-se logo que não são os filhos da coruja.

E comeu-os.

Mas eram os filhos da coruja. Ao regressar à toca, a triste mãe chorou amargamente o desastre e foi ajustar contas com a rainha das aves.

– Quê? – disse esta, admirada. Eram teus filhos aqueles monstrenguinhos? Pois, olha, não se pareciam nada com o retrato que deles me fizeste…

Moral da história: quem ama o feio, bonito lhe parece.

Interpretação do Refletir

A coruja deu à águia uma descrição errada de seus filhotes porque ela os via com olhos de mãe: o amor que a coruja sentia por eles a fazia os enxergar como as criaturas mais lindas do mundo. O seu sentimento a tornava cega para a realidade, que os bichinhos eram mais feios que pisar no rabo do cachorro.

39. A Onça Doente

A onça caiu da árvore e por muitos dias esteve de cama seriamente enferma. E como não pudesse caçar, padecia fome das negras.

Em tais apuros imaginou um plano.

– Comadre irara – disse ela – corra o mundo e diga à bicharia que estou à morte e exijo que venham visitar-me.

A irara partiu, deu o recado e os animais, um a um, começaram a visitar a onça.

Vem o veado, vem a capivara, vem a cutia, vem o porco do mato.

Veio também o jabuti.

Mas o finório jabuti, antes de penetrar na toca, teve a lembrança de olhar o chão. Viu na poeira só rastos entrantes, não viu nenhum rastro sainte. E desconfiou:

– Hum!… Parece que nesta casa quem entra não sai. O melhor, em vez de visitar a nossa querida onça doente, é ir rezar por ela…

E foi o único que se salvou.

Moral da História: contra esperteza, uma esperteza e meia.

Interpretação do Refletir

Os animais foram ingênuos e não perceberam a esperteza da onça. Já o sábio jabuti viu o que ninguém tinha notado.

Entendendo o fim que o esperava dentro da toca da onça, usou a sua esperteza para fugir do perigo.

Quando o malandro quer aplicar um golpe, se defenda com uma malandragem maior.

40. BURRICE

Caminhavam dois burros, um com carga de açúcar, outro com carga de esponjas.

Dizia o primeiro:

— Caminhemos com cuidado, porque a estrada é perigosa.

O outro redarguiu*:

— Onde está o perigo? Basta andarmos pelo rastro dos que hoje passaram por aqui.

— Nem sempre é assim. Onde passa um, pode não passar outro.

— Que burrice! Eu sei viver, gabo-me disso, e minha ciência toda se resume em só imitar o que os outros fazem.

— Nem sempre é assim, nem sempre é assim… continuou a filosofar o primeiro.

Nisto alcançaram o rio, cuja ponte caíra na véspera.

— E agora?

— Agora é passar a vau*.

*vau: Lugar no rio ou no mar, cuja profundidade permite que se atravesse a pé ou em um cavalo – fonte

O burro do açúcar meteu-se na correnteza e, como a carga se ia dissolvendo ao contato da água, conseguiu sem dificuldade pôr pé na margem oposta.

O burro da esponja, fiel às suas ideias, pensou consigo:

— Se ele passou, passarei também — e lançou-se ao rio.

(Mas sua carga, em vez de esvair-se como a do primeiro, cresceu de peso a tal ponto que o pobre tolo foi ao fundo.)

— Bem dizia eu! Não basta querer imitar, é preciso poder imitar — comentou o outro.

Interpretação do Refletir

O burrinho que carregava esponjas não entendia que cada situação na vida é diferente da outra: o que é possível para um pode não ser possível para outro, por estarem em circunstâncias diferentes.

Não se pode apenas copiar os outros: é preciso raciocinar se a solução dos outros funciona para a nossa situação.

e) Fábulas do Millôr Fernandes

41. O Ladrão e o Cão de Guarda

Um ladrão, desejando entrar à noite numa casa para a roubar, deparou-se com um cão que com os seus latidos o impedia. O cauteloso ladrão, para apaziguar o Cão, lançou lhe um bocado de pão. Mas o Cão disse:

— Bem sei que me dás este pão para que eu me cale e te deixe roubar a casa, não porque gostes de mim. Mas já que é o dono da casa que me sustenta toda a vida, não vou deixar de ladrar enquanto não te fores embora ou até que ele acorde e te venha afugentar. Não quero que este bocado de pão me custe morrer de fome o resto da vida.

Moral da História: Quem se fia em palavras lisonjeiras, acha-se no fim enganado. Mas quem suspeita das ofertas e das palavras de lisonjeio, não se deixar enganar.

Interpretação do Refletir

O ladrão tentou comprar o cão com um pedaço de pão. Se o cachorro tivesse se deixado comprar pelo pão teria perdido todo o seu sustento, pois o dono da casa ficaria sem recursos para sustentar o mascote.

A história mostra que devemos desconfiar das ofertas súbitas para não sermos enganados.

42. A CAUSA DA CHUVA

Não chovia há muitos e muitos meses, de modo que os animais ficaram inquietos. Uns diziam que ia chover logo, outros diziam que ainda ia demorar. Mas não chegavam a uma conclusão.

– Chove só quando a água cai do teto do meu galinheiro, esclareceu a galinha.

– Ora, que bobagem! disse o sapo de dentro da lagoa. Chove quando a água da lagoa começa a borbulhar suas gotinhas.

– Como assim? disse a lebre. Está visto que chove quando as folhas das árvores começam a deixar cair as gotas d’água que tem dentro.

Nesse momento começou a chover.

– Viram? gritou a galinha. O teto do meu galinheiro está pingando. Isso é chuva!

– Ora, não vê que a chuva é a água da lagoa borbulhando? disse o sapo.

– Mas, como assim? tornava a lebre. Parecem cegos? Não vêem que a água cai das folhas das árvores?

MORAL: Todas as opiniões estão erradas.

Interpretação do Refletir

Cada animal achava saber de onde vinha a chuva mas, na verdade, nenhum deles tinha o conhecimento, apenas opiniões. E opiniões não costumam se solidificar em fatos.

43. A RAPOSA E AS UVAS

De repente a raposa, esfomeada e gulosa, fome de quatro dias e gula de todos os tempos, saiu do areal do deserto e caiu na sombra deliciosa do parreiral que descia por um precipício a perder de vista. Olhou e viu, além de tudo, à altura de um salto, cachos de uvas maravilhosos, uvas grandes, tentadoras.

Armou o salto, retesou o corpo, saltou, o focinho passou a um palmo das uvas. Caiu, tentou de novo, não conseguiu. Descansou, encolheu mais o corpo, deu tudo o que tinha, não conseguiu nem roçar as uvas gordas e redondas.

Desistiu, dizendo entre dentes, com raiva:

“Ah, também, não tem importância. Estão muito verdes.”

E foi descendo, com cuidado, quando viu à sua frente uma pedra enorme. Com esforço empurrou a pedra até o local em que estavam os cachos de uva, trepou na pedra, perigosamente, pois o terreno era irregular e havia risco de despencar, esticou a pata e…

Conseguiu! Com avidez colocou na boca quase o cacho inteiro. E cuspiu. Realmente as uvas estavam muito verdes!

MORAL: A FRUSTRAÇÃO É UMA FORMA DE JULGAMENTO TÃO BOA COMO QUALQUER OUTRA

? Interpretação do Refletir

A raposa queria comer uvas mas, por não conseguir apanhar as frutas, ficou despeitada e desdenhou o alimento dizendo que “estavam muito verdes”.

Por sorte ela encontrou uma pedra e conseguiu ter acesso às uvas. Mas depois de comer viu que de fato as frutas ainda estavam muito verdes, azedas.

Mesmo quando alguém bota defeito em algo por despeito ele pode estar certo.

44. FÁBULA: O CARACOL E A PITANGA ??

Há dois dias o caracol galgava lentamente o tronco da pitangueira, subindo e parando e subindo.

Quarenta e oito horas de esforço tranquilo, de caminhar quase filosófico. De repente, enquanto ele fazia mais um movimento para avançar, desceu pelo tronco, apressadamente, no seu passo fustigado e ágil, uma formiga-maluca, dessas que vão e vêm mais rápidas que coelho de desenho animado. Parou um instantinho, olhou zombeteira o caracol e disse: “Volta, volta, velho! Que é que você vai fazer lá em cima? Não é tempo de pitanga.” “Vou indo, vou indo.” – respondeu calmamente o caracol. -“quando eu chegar lá em cima vai ser tempo de pitanga.”

Moral: No Brasil não há pressa!

Interpretação do Refletir

O caracol diz que “quando eu chegar lá em cima vai ser tempo de pitanga” porque ele vai demorar tanto para chegar ao seu destino que, até lá, já vai ter chegado o tempo das pitangas.

Quer dizer que no Brasil as pessoas são mansas, e tudo anda devagar.

45. O renascer dos belos sentimentos, uma vez satisfeitas as necessidades básicas

Esta pungente história se passou no meio de uma selva, nas areias de um deserto, num velho navio abandonado e sem rumo, em qualquer lugar em que há dificuldades de alimentação e o homem começa a sentir a antropo ou qualquer outra fagia a lhe espicaçar o estômago.

Pois, sozinho e sem se alimentar há vários dias, o homem vinha caminhando no vasto areal (ou selva, ou, etc.), seguido apenas de seu fiel cachorro. Lá para as tantas lhe deu, porém, o espicaçar acima enunciado, a fome bateu-lhe às portas da barriga: “pan, pan, pan, ó de casa!” Já batera antes, mas o homem tinha fingido que não ouvia. Naquele momento, porém, não resistiu mais e atendeu à fome. Matou o cachorrinho, única coisa comível num raio de quilômetros. Matou-o, assou-o num fogo improvisado, e comeu-o todo, todo, com uma fome canina (perdão). Quando tinha acabado de comer o animal, sentou-se, plenamente satisfeito. E foi então que olhou em torno e começou a chorar: “Ai, ai, ai” – soluçou – “pobre do Luluzinho! Como ele adoraria roer esses ossos!”

Moral da história: Quando eu tiver uma casa bem confortável, escreverei um trabalho de sociologia.

“Para se exercer as virtudes do espírito é necessário um mínimo de conforto material”. (Santo Agostinho)

Interpretação do Refletir

A fábula diz que todos nós só conseguimos pensar em moralidade quando temos acesso ao básico. Com fome ou frio, não teríamos como nos preocupar com bondade – apenas com sobrevivência.

46. A Águia e o Grou

A Águia apanhou um Cágado para comer, e trazia-o pelo ar e dava-lhe picadas, mas não conseguia matá-lo porque estava muito recolhido na sua carapaça. A Águia estava a ficar furiosa com isto, mas entretanto chega o Grou, que diz:

— A caça que apanhaste é decerto muito boa, mas não poderás saboreá-la senão por artimanha.

A Águia propôs que, se lhe ensinasse a artimanha, repartiria com ele o que caçara. O Grou disse então:

— Sobe acima das nuvens e de lá deixa cair o Cágado em cima de uma pedra, que quebrará a carapaça, deixando a carne descoberta.

A Águia assim fez, e sucedendo o queriam, comeram ambos da caça.

Moral da história: Na guerra, e em qualquer negócio, vale mais a sageza do que a força. Há negócios muito árduos que apenas se concluirão por manha (esperteza), e sem ela a força pouco ou nada vale.

Interpretação do Refletir

A águia não conseguia comer a pobre tartaruguinha pois tentava tirar o bicho para fora na base da força.

Então, com a ajuda dos conselhos do Grou, ela conseguiu o que queria.

Há duas lições: a primeira é que não adianta forçar algo que não está funcionando, é preciso pensar estrategicamente.

A segunda é que mais vale dividir um bom negócio e ambos os lados ganharem, do que permanecer sozinho com um possível ganho que nunca se concretizará.

Definição do que é Fábula e estrutura das Fábulas:

Débora Barros Gonçalves
Professora de Língua Portuguesa | Cursou Letras Português/Inglês no centro universitário FMU

Seleção das Fábulas, interpretação da história, imagens e restante do material criado por: Equipe Refletir

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Fontes:

Fábulas de Esopo. Trad. Heloisa Jahn. São Paulo, Companhia das Letrinhas, 1999

Esopo. Fábulas. Porto Alegre: L&M Pocket, 1997, p. 139-140.

ESOPO. “Fábulas completas”. Tradução direta do grego por Neide Smolka. São Paulo, Moderna, 1994. p.17

Millôr Fernandes. Fábulas fabulosas. Rio de Janeiro: Nórdica, 1991.

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